Exibições Confirmadas:

2016:

11 de Agosto - Cine Teatro Mussi - Laguna (SC) - às 20 hs

12 de Agosto - Cine Teatro Mussi - Laguna (SC) - sessões às 9 hs e 14 hs (para alunos das escolas locais)

19 de Agosto - Cinema do Centro Integrado de Cultura (CIC) - Florianópolis (SC) - às 20 hs

21 de Agosto - Cinema do Centro Integrado de Cultura (CIC) - Florianópolis (SC) - às 20 hs

27 de Agosto - Salão Paroquial do Farol de Santa Marta - Laguna (SC) - às 19:30 hs

20 de Setembro - Cinema da Lagoa/Espaço Sol da Terra - Florianópolis (SC) - às 19:30 hs

09 de outubro - Feira de Artes e Cacarecos da Praia da Armação (exibição ao ar livre)  - Florianópolis (SC) - às 19:30hs

05 de novembro - Festival Planeta.Doc - Cinema do Centro Integrado de Cultura (CIC) - Florianópolis (SC) - às 15:45 hs

10 de novembro - Câmara de Vereadores de Jaguaruna - Jaguaruna (SC) - às 19:30 (exibição especial para convidados)

12 de novembro - MIMPI Film Fest - Rio de Janeiro (RJ) - às 19 hs

18 de novembro - Surf At Lisbon Film Fest (SAL) - Cinema São Jorge - Lisboa - Portugal - 19:30 hs

25 de novembro - Câmara de Vereadores de Jaguaruna - Jaguaruna (SC) - às 19:30hs


2017:

30 de abril - Salão Paroquial Comunitário do Farol de Santa Marta - Laguna (SC) - às 19:30 hs

15 de dezembro - estréia do filme em TV a cabo no Canal OFF - Globosat, com 16 exibições programadas ao longo de três anos.






16 de março de 2015


As gravações no interior do Farol de Santa Marta foram uma etapa fundamental na captação de conteúdo para o documentário A Pedra e o Farol, por sua importância como marco geográfico e símbolo da ocupação humana no litoral sul de Santa Catarina.



Inaugurado em 1891 no então remoto Cabo de Santa Marta para garantir a segurança da navegação na costa sul brasileira, o farol se destaca na paisagem com sua imponente torre de 29 metros de altura, erguida em um promontório a 45 do nível do mar, no ponto que marca uma sensível inflexão geográfica que fez o local ficar conhecido como "A esquina do Atlântico Sul".

Além de guiar os navegantes, a criação do farol fomentou também o nascimento de uma colônia de pescadores em seu entorno a partir de 1910 e posteriormente suas praias foram se transformando com o turismo do surfe e os veranistas.




Na primeira semana de março fomos recebidos pelos três militares que atualmente encontram-se "embarcados" no terreno do Farol: os sub-oficiais Fábio, Paulino e Cícero (abaixo), que nos mostraram um pouco da rotina de se viver em um Rádiofarol, o que inclui a realização de medições meteorológicas a cada três horas, o cuidado geral de manutenção e operação de equipamentos como geradores e a estação de rádio e comunicação, além dos procedimentos de acionamento do aparelho lenticular que dá luz ao farol.


  

Já o Capitão-de-Corveta Francisco de Assis da Silva (abaixo), que comanda a Delegacia da Capitânia dos Portos em Laguna, ofereceu dados e visões interessantes sobre a importância dos faróis na segurança marítima e o papel da Marinha do Brasil como um todo na proteção das embarcações e na regulamentação da navegação na região - que a partir de Laguna em direção ao sul se estende em uma perigosa faixa de mar aberto de 500 kms até a Barra do Rio Grande no extremo sul do país.




Apesar do farol ter funcionado como um marco civilizatório, impulsionando o crescimento demográfico em seu entorno, a região do Cabo de Santa Marta segue categorizada pela Marinha como uma "área inóspita" devido à infra-estrutura ainda precária da região. Ao longo do tempo, com o aumento do fluxo de pessoas ao local, o acesso ao interior do Farol e suas dependências passou a ser restrito a partir dos anos 80, especialmente por conta do vandalismo absurdo praticado por visitantes que quebravam pedaços da lente para levar como recordação.



Construído  em pedra, areia, barro e óleo de baleia, o farol segue em pleno funcionamento há mais de 123 anos e ainda mantém o aparelho lenticular original de fabricação francesa posicionado no alto dos 138 degraus que levam ao topo da torre. Sua estrutura encontra-se muito bem preservada, incluindo os detalhes da arquitetura interna original e a manutenção dos equipamentos manuais, embora hoje o seu funcionamento seja elétrico. O ambiente na torre, com paredes de dois metros de espessura e poucas janelas, passa uma sensação de isolamento e de estarmos embarcados em alto mar, apesar do farol estar fincado em terra firme.




A luz emitida pelo farol possui um alcance de mais de 90 km - sendo o maior das Américas e o terceiro no mundo em alcance visual - e apresenta características singulares em sua concepção. A principal delas é a existência de um feixe de luz vermelha (chamado de "lampejo encarnado"), que é emitido pelo farol para avisar os navegadores que sua embarcação encontra-se em rota de colisão com a montanha submersa, conhecida como Pedra do Campo Bom ou Laje da Jagua, cuja espuma localizada a cerca de 24 kms de distância ao sul do farol pode ser avistada da torre nos dias de ondas grandes.




Do alto da torre na parte interna, logo abaixo da cúpula da lente, a sensação é de estarmos dentro das engrenagens de um imenso relógio que realiza uma rotação completa a cada dois minutos. Ao adentrar a cúpula envidraçada de três metros de altura por 2,6 m de largura, o incrível jogo de vidros que refletem a luz da lampada central oferece uma experiência de forte apelo sensorial.



E foi lá no alto da torre que faroleiro Paulino nos mostrou a evolução dos equipamentos e os ricos detalhes sobre o seu funcionamento, inclusive acionando o antigo sistema manual a querosene que fazia o farol girar. Em seu depoimento, ele contou do orgulho que sente em poder cuidar do farol, fato que se revela na organização de um pequeno museu com fotos e equipamentos antigos que mantém no interior da torre, para explicar melhor aos visitantes as características do farol.




Vimos também que a carreira militar exige o desprendimento de ter que enfrentar constantes mudanças de endereço, como no caso de Paulino, que é natural de Natal no Rio Grande do Norte. Em tom de despedida após duas passagens de três anos pelo Farol de Santa Marta, ele contou já sentir saudades da rotina de viver no interior do farol - e admitiu inclusive "conversar com ele de vez em quando", enquanto observa a passagem do tempo e as mudanças climáticas a partir da solitária e privilegiada visão do alto da torre.



 01 de novembro de 2014


Meses antes, enquanto aguardavamos os trâmites burocráticos para poder filmar dentro do Farol de Santa Marta, tivemos a oportunidade de entrevistar Antonio José Nascimento, um faroleiro aposentado de 75 anos, que durante 15 anos trabalhou no local e também conhece todos os detalhes sobre o funcionamento do farol. De fala mansa, ele casou-se com a moradora nativa Maria José e decidiu permanecer na região, onde hoje leva uma vida pacata próximo à lagoa, nas margens da estrada entre o Cabo de Santa Marta e Laguna.



E assim cumprimos a missão de registrar mais algumas nuances da relação de pertencimento do ser humano com a paisagem que o cerca - uma das reflexões centrais deste documentário -, onde os laços afetivos se estabelecem não só com os elementos da natureza e as pessoas do nosso convívio, mas também com construções humanas como a torre de um farol.
  

10 de agosto de 2014


A segunda semana de agosto foi dedicada ao registro de imagens de natureza para compor o conteúdo do documentário A Pedra e o Farol, num passeio que rendeu belos momentos no litoral de Jaguaruna e Laguna - como mostram estes frames capturados pelo cinegrafista Rafael Ribeiro.


O dia frio de inverno começou iluminado pelo nascer do sol no mar da praia do Arroio Corrente em Jaguaruna de onde seguimos em direção ao norte  pela precária estrada litorânea de chão batido no intuito de registrar as paisagens encontradas nos pequenos balneários que hoje ocupam as antes virgens cadeias de dunas.


O cenário de desolação que buscavamos foi ressaltado pelo aspecto abandonado de loteamentos como o de Nova Camboriú, hoje objeto de uma ação de embargo por estar localizado em área de dunas e absurdamente próximo a dois sambaquis. Assim, o cenário era de umas poucas casas, com dunas tomando de volta o espaço das ruas construídas, num espaço com extensas dunas e pequenas lagoas naturais que batizamos de "lençois jaguarunenses".

Chegando à Barra do Camacho na divisa com o município de Laguna, registramos as tradicionais atividades dos pescadores artesanais, que passam horas sobre os molhes de pedra lançando suas tarrafas na saída da lagoa para o mar, neste tradicional reduto pesqueiro da região.


Já no início da tarde, na região do Farol de Santa Marta, fomos brindados com a passagem de baleias francas pela Prainha e pela praia do Cardoso, num espetáculo da natureza proporcionado por estes mamiferos que visitam o litoral catarinense nesta época do ano.


A noite, o desafio foi tentar capturar toda a beleza de um céu limpo e estrelado em um time-lapse na praia de mar aberto em Jaguaruna, escolhendo como referência terrestre as ruinas do clube Mariscão.

O dia seguinte rendeu ainda imagens de ação em uma sessão de surf com vento terral na Praia da Cigana, além do registro da pesca com golfinhos na Barra de Laguna, finalizando com um registro das três pontes na BR-101 com o Farol, completando um roteiro repleto de belezas naturais.
12 de junho de 2014

Na busca por entrevistar personagens representativos da comunidade do surf e do turismo no Farol de Santa Marta, conversamos com dois surfistas locais de diferentes gerações do Farol: João Baiuka e Adriano Limas, que gravaram seus depoimentos num belo dia de sol em meio ao privilegiado visual panorâmico da varanda da pousada Baiuka.



Jovem e dedicado surfista, João nasceu e cresceu convivendo com o visual da ondas da Praia do Cardoso, na casa do avô que com o tempo se transformou numa das melhores pousadas e restaurantes do local. Conciliando a paixão pelas ondas com a administração do negócio da familia, João ofereceu informações interessantes sobre desenvolvimento do turismo, do esporte e da cultura do surf no Farol de Santa Marta, além de sua visão sobre os maiores atrativos naturais e os desafios para o futuro da região.

 
Surfista desde os anos 80, Adriano Limas é nativo da Prainha do Farol e relembrou as histórias dos surfistas pioneiros, em especial os paulistas que marcaram época quando chegaram para desbravar as ondas do Cabo de Santa Marta no final da década de 70 e influenciaram os garotos locais como ele a se dedicarem ao surf.

Seu depoimento também tratou de forma bem-humorada da questão do localismo nas praias do Farol, que hoje abrigam diversas modalidades de esportes aquáticos, além das mudanças relativas ao crescimento urbano provocado pela chegada de muitos surfistas que decidiram construir casas na região.  Um movimento que acabou interferindo de forma negativa na qualidade das ondas, com a retirada e a modificação do caminho natural das dunas provocando alterações signifcativas nos bancos de areia onde as ondas quebram.


Créditos dos frames de surf: João Baiuka em dois tempos na Praia do Cardoso 




11 de agosto de 2014

Frequentando o Farol de Santa Marta há mais de 15 anos, o biólogo Reinaldo Jaeger decidiu abraçar a fotografia e se dedicar à criação de o website Guru das Ondas alimentado diariamente com surf reports, mostrando as condições de surf nas principais praias da região, além de servir como um canal de comunicação para a comunidade, com noticias focadas nas questões ambientais e sociais da região.

O boletim das ondas não é novidade nas praias do Farol, mas as tentativas anteriores não vingaram por muito tempo. Assim, Reinaldo enfrenta o desafio manter as suas atualizações diante da pressão de alguns surfistas "locais" que preferem que "suas" praias não sejam divulgadas, evitando o excesso de surfistas no mar. Mas com um trabalho sério e um forte engajamento nas questões ambientais e sociais, ele tem conseguido apoio de anunciantes locais e das associações de surf do Cabo de Santa Marta.



Numa manhã quente de julho e forte vento nordeste, acompanhamos o seu trajeto matinal diário em meio as paisagens das praias do Cabo e gravamos uma entrevista, na qual ele ofereceu opiniões embasadas sobre a importância do surf e do turismo para consolidar um desenvolvimento sustentável da "ilha" (como os moradores se referem à regiào do Cabo) - onde a valorização e preservação das belezas naturais devem ser priorizadas frente ao crescimento inevitável que se anuncia com as facilidades geradas pelo asfaltamento dos acessos à região.

Opiniões semelhantes foram expostas por Ângelo Teodoro, mais conhecido como Anjinho, um personagem nativo bastante conhecido da comunidade do Farol. A frente da Associação de Surf do Farol de Santa Marta e por muitos anos comandando a principal casa noturna do morro do Farol - o folclórico Boikagô -, Anjinho contou um pouco da sua experiência pessoal com o turismo do surf e das baladas que atraem os jovens para a região a cada temporada de verão.

Um dos repsonsáveis por trazer um evento de surf internacional para a Praia do Cardoso em 2010, Anjinho falou sobre o descaso das autoridades com a região, citando a escalada da violência, roubos e falta de segurança em anos passados, devido à mudança de perfil dos frequentadores das noitadas no Farol. Fatos que contribuiram para que ele decidisse fechar o bar, hoje transformado em uma igreja evangélica, acompanhando a sua conversão religiosa. Feliz com a vida mais sossegada junto à família na comunidade onde cresceu, Anjinho continua a surfar quando as ondas estão boas na Cigana e ainda mantém uma lanchonete no verão.








12 de junho de 2014


Estima-se que a comunidade pesqueira de origem açoriana que deu origem à ocupação moderna no Cabo de Santa Marta tenha chegado no início do século XX, atraída pela fartura de peixes encontrado na "esquina do Atlântico". Parte fundamental da identidade cultural da região, hoje a pesca artesanal ainda é a principal atividade econômica para os moradores locais, junto com o turismo, que traz renda nos feriados e meses de verão.



Nativo de Jaguaruna, o sr João Lucindo é um desses homens que fez a vida como pescador artesanal e vive desde os anos 60 no morro do Farol de Santa Marta, onde formou uma extensa família a partir da vida simples em contato com o oceano. Suas lembranças revivem a quase deserta localidade pesqueira, de onde tirava o seu sustento nas generosas safras de tainha e anchovas, que hoje se reduzem diante de questões como a sobrepesca e a pesca industrial.


12 de agosto de 2014

Representando uma geração mais recente de pescadores, por muitos anos Fabiano Laureano da Silva de 42 anos participou de grandes pescarias de anchovas e olhetes na Pedra do Campo Bom (Laje da Jagua), em caravanas com mais de vinte barcos com sete tripulantes cada.

Mas tudo mudou na noite em que sua embarcação naufragou ao ser atingida por uma onda na laje e desapareceu para sempre nas cavernas submersas. "Eu fui o último a ser resgatado e depois não encontramos mais nada, nem o motor do barco", relata ele, admitindo que criou um trauma do local e nunca mais voltou lá.

Essas e outras muitas histórias ele nos contou com riqueza de detalhes depois de nos servir um típico almoço de peixe fresco a milanesa no tradicional Restaurante da Valda, de propriedade de seus pais e localizado há mais de trinta anos no morro do Farol. 



Em outras saídas registramos também a movimentação de barcos nos ranchos de pesca na Praia do Cardoso - em especial no rancho do sr, Helder - , onde se concentra a comunidade centenária de pescadores artesanais do Farol.



Já do lado norte da Barra da Laguna, registramos a famosa e singular pesca com auxílio de botos, um patrimônio cultural e turístico do muncipio de Laguna, com o espetáculo diário proporcionado pelos golfinhos em sua interação com os pescadores.

Mais ao sul, acompanhamos a rotina da também tradicional pesca de tarrafa na Barra do Camacho que divide os municipios de Laguna e Jaguaruna e a beleza cênica de um por do sol com as canoas de pesca de camarão na Lagoa da Cigana.


Segundo João Lucindo, a partir da Barra do Camacho em direção ao sul, a pesca artesanal é realizada por grupos de "pescadores ciganos", que exploram o extenso e desprotegido litoral de mar aberto além da fronteira com o Rio Grande do Sul, percorrendo as praias com seus barcos sobre caminhões.





04 de setembro de 2014
 

O bombeiro e mergulhador Carlos Alberto Martins, mais conhecido como Beto Cavalo, é um dos maiores conhecedores das riquezas submersas da Pedra do Campo Bom (Laje da Jagua), que visita com frequencia para praticar a caça submarina, muito antes do surgimento do surf de tow-in no local.

Ele nos recebeu em sua casa na beira do Canal da Barra em Laguna, de onde sai periodicamente com suas embarcações - batizadas de Parcel I e Parcel II - para mergulhar ou guiar passeios com grupos de pescadores amadores, que vem de diversas regiões do país para conhecer a fauna marinha no entorno do Cabo de Santa Marta.



Seus relatos ajudam a contextualizar a situação da pesca atual na região e compõem uma rica descrição que contempla às diversas ocorrências marítimas em que se envolveu, como o resgate a mergulhadores e pescadores em apuros na laje, a captura de grandes garoupas e olhetes nas montanhas submersas do parcel, além de sua atuação no suporte e segurança dos surfistas que participaram das duas edições do campeonato de ondas gandes no local.

Conhecido por sua coragem e disposição, Beto também revelou detalhes sobre a incrível operação de desencalhe de uma baleia franca que ficou presa nas areias do canal, próximo a sua casa. Ao final da conversa, embarcamos em sua lancha e fizemos o percurso de poucos minutos de sua casa até os molhes da Barra da Laguna, o que permitiu registrar detalhes da geografia da região.

Beto capturando uma garoupa la laje da Jagua





30 de abril de 2014


Dentro do resgate histórico promovido no documentário A Pedra e o Farol, a entrevista com o historiador Adílcio Cadorin ajudou a contextualizar as primeiras ocupações do território litorâneo de Laguna e sua importância no cenário das disputas territoriais entre Portugal e Espanha a partir do final do século XV.

Ex-prefeito de Laguna e apaixonado por documentos antigos, Cadorin tornou-se um especialista na história da região, com livros publicados sobre o Tratado de Tordesilhas em 1494 - que estabelecia uma controversa linha imaginária dividindo as terras do recém-descoberto continente americano entre Portugal e Espanha -, e o episódio conhecido como a Tomada de Laguna em 1839, quando a revolução comandada por Giuseppe e Anita Garibaldi declarou a independência de Laguna num enfrentamento com as tropas imperiais.



Recebidos em sua casa com vista para a praia do Mar Grosso em Laguna, a entrevista com o sr. Cadorin foi uma verdadeira aula de História do Brasil, contribuindo para consolidar o entendimento sobre as motivações e as questões geográficas que fizeram de Laguna e do Cabo de Santa Marta um ponto estratégico da ocupação territorial desde antes do próprio descobrimento oficial do Brasil em 1500.

Nesse contexto, um dos registros mais fascinantes é o chamado Planisfério de Cantino (em detalhe na imagem de abertura), um mapa mundi de 1502 que já registra alguns poucos marcos geográficos na América do Sul, entre eles o Cabo de Santa Marta em destaque - levantando ainda mais dúvidas sobre quem teria batizado este local com o nome que permanece até os dias atuais.



Os depoimentos e registros históricos levantados por Cadorin deixam claro também que a extensa faixa de mar aberto partir do Cabo de Santa Marta em direção ao Rio Grande do Sul representou ao longo do tempo, uma imponente barreira natural para os exploradores que buscavam a foz do Rio da Prata, localizada dois mil quilômetros ao sul já no Uruguai - vista como uma passagem para explorar as riquezas escondidas ao oeste do continente americano.

Frente aos muitos naufrágios e à falta de proteção para as embarcações na região ao sul do Cabo, as explorações na direção sul a partir de Laguna na época das caravelas portuguesas e espanholas passaram a ser feitas por via terrestre de modo a evitar a chamada "costa brava". Como narra Cadorin no livro Laguna Terra Mater: "...o Cabo de Santa Marta... era o último porto acessível, onde poderiam abastecer seus navios... Após seguiam viagem pela extensa e retilínea costa, que por ser constantemente varrida por fortes vendavais e seus perigosos baixios, perdiam-se numerosos navios".


04 de setembro de 2014


Séculos depois em 15 de julho de 1839, temos a história do naufrágio da embarcação Rio Pardo de Giuseppe Garibaldi, onde hoje se encontra a Praia do Campo Bom a cerca de 20 kms ao sul do Cabo de Santa Marta e sua aventura a pé até a Barra do Camacho, onde se reagrupou com as embarcações farroupilhas para fundar a efêmera República de Laguna. Um acontecimento que enriquece o papel histórico destas águas traiçoeiras, que seguiriam a vitimar embarcações nas décadas seguintes, com encalhes e naufrágios ocorridos até meados dos anos 1970, mesmo após a construção do Farol de Santa Marta em 1890.



Numa visita guiada por Cadorin ao museu Anita Garibaldi no centro histórico de Laguna, pudemos registrar o mastro e a lanterna de bordo do lanchão Seival (acima), utilizado por Garibaldi em sua expedição pelo complexo lagunar a partir da Barra do Camacho, onde, apoiado pelas tropas farroupilhas de David Canabarro que vinham da região serrana em Lages, o revolucionário italiano supreendeu as forças imperiais no episódio histórico conhecido como a Tomada de Laguna.