30 de abril de 2014


Dentro do resgate histórico promovido no documentário A Pedra e o Farol, a entrevista com o historiador Adílcio Cadorin ajudou a contextualizar as primeiras ocupações do território litorâneo de Laguna e sua importância no cenário das disputas territoriais entre Portugal e Espanha a partir do final do século XV.

Ex-prefeito de Laguna e apaixonado por documentos antigos, Cadorin tornou-se um especialista na história da região, com livros publicados sobre o Tratado de Tordesilhas em 1494 - que estabelecia uma controversa linha imaginária dividindo as terras do recém-descoberto continente americano entre Portugal e Espanha -, e o episódio conhecido como a Tomada de Laguna em 1839, quando a revolução comandada por Giuseppe e Anita Garibaldi declarou a independência de Laguna num enfrentamento com as tropas imperiais.



Recebidos em sua casa com vista para a praia do Mar Grosso em Laguna, a entrevista com o sr. Cadorin foi uma verdadeira aula de História do Brasil, contribuindo para consolidar o entendimento sobre as motivações e as questões geográficas que fizeram de Laguna e do Cabo de Santa Marta um ponto estratégico da ocupação territorial desde antes do próprio descobrimento oficial do Brasil em 1500.

Nesse contexto, um dos registros mais fascinantes é o chamado Planisfério de Cantino (em detalhe na imagem de abertura), um mapa mundi de 1502 que já registra alguns poucos marcos geográficos na América do Sul, entre eles o Cabo de Santa Marta em destaque - levantando ainda mais dúvidas sobre quem teria batizado este local com o nome que permanece até os dias atuais.



Os depoimentos e registros históricos levantados por Cadorin deixam claro também que a extensa faixa de mar aberto partir do Cabo de Santa Marta em direção ao Rio Grande do Sul representou ao longo do tempo, uma imponente barreira natural para os exploradores que buscavam a foz do Rio da Prata, localizada dois mil quilômetros ao sul já no Uruguai - vista como uma passagem para explorar as riquezas escondidas ao oeste do continente americano.

Frente aos muitos naufrágios e à falta de proteção para as embarcações na região ao sul do Cabo, as explorações na direção sul a partir de Laguna na época das caravelas portuguesas e espanholas passaram a ser feitas por via terrestre de modo a evitar a chamada "costa brava". Como narra Cadorin no livro Laguna Terra Mater: "...o Cabo de Santa Marta... era o último porto acessível, onde poderiam abastecer seus navios... Após seguiam viagem pela extensa e retilínea costa, que por ser constantemente varrida por fortes vendavais e seus perigosos baixios, perdiam-se numerosos navios".


04 de setembro de 2014


Séculos depois em 15 de julho de 1839, temos a história do naufrágio da embarcação Rio Pardo de Giuseppe Garibaldi, onde hoje se encontra a Praia do Campo Bom a cerca de 20 kms ao sul do Cabo de Santa Marta e sua aventura a pé até a Barra do Camacho, onde se reagrupou com as embarcações farroupilhas para fundar a efêmera República de Laguna. Um acontecimento que enriquece o papel histórico destas águas traiçoeiras, que seguiriam a vitimar embarcações nas décadas seguintes, com encalhes e naufrágios ocorridos até meados dos anos 1970, mesmo após a construção do Farol de Santa Marta em 1890.



Numa visita guiada por Cadorin ao museu Anita Garibaldi no centro histórico de Laguna, pudemos registrar o mastro e a lanterna de bordo do lanchão Seival (acima), utilizado por Garibaldi em sua expedição pelo complexo lagunar a partir da Barra do Camacho, onde, apoiado pelas tropas farroupilhas de David Canabarro que vinham da região serrana em Lages, o revolucionário italiano supreendeu as forças imperiais no episódio histórico conhecido como a Tomada de Laguna.