28 de abril de 2014

Mostrar como uma montanha submersa em alto mar tornou-se um ponto  turístico e divulgou a região litorânea ao sul do Cabo de Santa Marta é um dos elementos mais desafiadores no que se refere à captação de  imagens para o documentário A Pedra e o Farol.

Localizada à 5 kms da costa da Praia do Arroio Corrente em Jaguaruna, a Pedra do Campo Bom - hoje mais conhecida como Laje da Jagua - representou durante séculos um grande desafio para os navegadores que se aventuravam pelos perigosos mares do sul, o que deu à região a alcunha de ser cemitério de navios. Foi por conta desta rasa e perigosa montanha submersa que foi construído o Farol de Santa Marta localizado à cerca de 18 kms ao norte, orientando as embarcações que por ali navegam.



Já há algumas décadas que a laje é procurada por pescadores e mergulhadores que vão até lá em busca de sua rica fauna de peixes e crustáceos. Mas foi a partir de 2003 que o local passou a ser mais conhecido do público em geral, quando, graças ao advento do surf de tow-in, a laje foi desbravada pelos surfistas de ondas grandes, que nos dias de mar agitado, descobriram ali uma das mais potentes ondas do Brasil.

Com a chegada de grandes ondulações no mês de abril, a equipe de filmagem acompanhou uma destas investida ao local, onde aproveitamos para entrevistar a "Tropa da Laje", um unido grupo de surfistas que se dedicm a surfar esta onda, liderados pelo local Thiago Jacaré que já visitou o local uma centena de vezes e presenciou toda a evolução do surf no laje.


Na narrativa do filme, a evolução e a visibilidade alcançada pelo surf na Laje da Jagua será contada desde que os pioneiros Zeca Sheffer e Rodrigo Resende surfaram pela primeira vez esta onda em 2003, numa história de desafio e conquista resgatada a partir do extenso arquivo guardado por Jacaré, com destaque para os dois campeonatos de ondas grandes realizados em 2006 e 2011, que reuniram os melhores surfistas "big riders" do Brasil e colocaram Jagauruna no mapa do surf mundial.

Partindo do legado deixado pro Zeca Sheffer que faleceu em um acidente automobilístico em 2006, Jacaré assumiu o comando da Associação de Tow-in de Jaguaruna (Atow-inj), transformando a sua casa numa verdadeira base para receber os surfistas de ondas grandes que chegam para conhecer a hoje famosa onda oceânica.



Conciliando o trabalho noturno que lhe possibilita uma dedicação total ao surf durante o dia, Jacaré está sempre pronto para encarar a  laje quando entra uma ondulação grande e é o principal divulgador da  Laje da Jagua, publicando quase que diariamente material relacionado ao  pico em sites, redes sociais e revistas especializadas.

Mas o surf de ondas grandes é essencialmente um trabalho de equipe, como ficou claro nas conversas com os big riders da laje. Assim, foi a união com os demais surfistas fissurados em surfar o local, cujas ondas só funcionam em dias especiais, que a equipe da laje se estruturou ao longo do tempo, investindo em segurança e treinamento, com o alto custo envolvido nos equipamentos necessários para surfar a Laje - na aquisição de jet skis, pranchas especiais de tow-in, coletes, sled, pranchas de remada e muitos outros acessórios.



A partir de entrevistas com os big riders mais assíduos da laje, como os gaúchos Fabiano Tissot e Marquito Moraes, o carioca João Capilé e o local André Paulista - faltando ainda gravar a entrevista com Resende, que não pode estar presente - foi possível conhecer mais a fundo sobre os desafios de surfar esta onda oceânica e entender as motivações que impulsionam estes surfistas a se arriscar num local tão inóspito.



Uma história de evolução e dedicação que parte das primeiras saídas em jet skis precários que pifavam a todo  momento, passando pela evolução do surf de tow-in (rebocado) até os  últimos anos quando os surfistas passaram a surfar a laje na remada com  pranchas "gunzeiras" com mais de 10 pés de comprimento.


Com anos de experiência registrando imagens na Laje, o fotografo e surfista local Lucas Barnis - que fez a fotografia que abre esta matéria - é outro personagem chave no filme, explicando os desafios de gravar imagens da onda em alto mar, com as dificuldades de estabilidade nos jets-skis, o embaçamento das caixas estanques, que obrigam a retirada das mesmas para conseguir gravar e que já lhe renderam inclusive a perda de equipamentos.


Na primeira tentativa de registro de imagens inéditas para o filme, presenciei os humores da onda, que não quebrou como o esperado e tive que lidar com problemas com a caixa estanque e a importância da pilotagem e posicionamento do jet-ski, que confirmam o tamanho o desafio envolvido em filmar a maior onda do Brasil. Um desafio que queremos encarar nas novas inbestidas à laje, pois como diz o próprio Jacaré: "apesar de tantas tentativas ao longo dos anos, o verdadeiro potencial da onda da laje ainda nunca foi registrado em imagens".


06 de novembro de 2014


A gravação da entrevista com o ex-surfista profissional carioca Rodrigo Resende preencheu uma lacuna importante nos relatos sobre o desbravamento da Laje de Jaguaruna pelos surfistas de ondas grandes. Afinal de contas, foi ele junto com o falecido Zeca Sheffer, que num fim de tarde de inverno em 2003 surfaram pela primeira vez esta onda perdida a 5 kms da costa.



Em seu apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Rodrigo, que hoje se dedica à profissão de médico, relembrou em detalhes a aventura da descoberta da laje, com todos os desafios que isso implicou, e ofereceu suas impressões sobre tudo o que aconteceu com a fama alcançada pela onda anos depois.



Um dos surfistas de ondas grandes mais respeitados e premiados do Brasil, "Monster", como também é conhecido, não liga muito para a mídia gerada em torno do surf de ondas grandes, mas como autêntico "surfista de alma" está sempre a postos para pegar as maiores sempre que possível. Foi assim, no último mês de abril, quando ele esteve pela última vez na Laje da Jagua, onde surfou na remada (foto acima)  algumas das melhores ondas da sessão.


crédito foto de abertura: Thiago Jacaré (surfista) e Lucas Barnis (fotógrafo)